Cuidados com o calor extremo

Os dias mais quentes do ano vão além do simples desconforto térmico. Para quem convive com doenças crônicas, especialmente hipertensão e diabetes, o calor intenso pode funcionar como um gatilho silencioso para descompensações importantes. Isso acontece porque o organismo precisa fazer um esforço adicional para manter a temperatura corporal estável, e esse esforço se soma às limitações já existentes nessas condições de saúde.

Estudos nacionais e internacionais vêm mostrando que ondas de calor estão associadas ao aumento de atendimentos de urgência e internações por causas cardiovasculares e metabólicas. O impacto é ainda maior em pessoas que já têm pressão alta, diabetes ou doenças cardíacas, o que reforça que o risco não é teórico, mas real e observado na prática.

No caso da hipertensão, o calor provoca uma série de adaptações no organismo. Com o aumento da temperatura, os vasos sanguíneos se dilatam para facilitar a liberação de calor pela pele. Esse mecanismo, embora natural, pode levar a oscilações da pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos e maior risco de desidratação. Em pessoas hipertensas ou com doenças cardiovasculares, o coração precisa trabalhar mais para compensar essas mudanças. Uma ampla revisão publicada na revista The Lancet Planetary Health identificou uma associação consistente entre temperaturas elevadas e o aumento de eventos cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, arritmias, infarto e AVC, especialmente em populações mais vulneráveis, como idosos e pessoas com hipertensão prévia. Em outras palavras, o calor não causa a hipertensão, mas aumenta significativamente a chance de crises em quem já convive com a condição, sobretudo quando há desidratação ou esforço físico nos horários mais quentes do dia.

Entre pessoas com diabetes, o calor também impõe desafios importantes. A perda excessiva de líquidos por meio do suor pode concentrar o sangue e favorecer a elevação da glicemia. Além disso, o diabetes pode comprometer a circulação e os nervos responsáveis pela sudorese, reduzindo a capacidade natural do corpo de regular a própria temperatura. Estudos mostram que a exposição ao calor está associada ao aumento de internações por emergências hiperglicêmicas, como cetoacidose diabética e estado hiperosmolar, mas também por episódios de hipoglicemia, especialmente em pessoas mais idosas ou com controle glicêmico inadequado.

Dados brasileiros reforçam esse alerta. Uma análise baseada em internações hospitalares no país estimou que cerca de 7,3% das hospitalizações relacionadas ao diabetes durante a estação quente podem ser atribuídas à exposição ao calor. Isso evidencia que o impacto das altas temperaturas sobre a saúde de pessoas com diabetes é concreto e relevante no contexto nacional.

Diante desse cenário, é fundamental estar atento aos sinais de alerta. Pessoas com hipertensão devem procurar atendimento médico diante de sintomas como tontura, fraqueza, desmaios, palpitações, falta de ar fora do habitual, dor ou aperto no peito e dor de cabeça intensa e persistente. Já entre diabéticos, merecem atenção sinais como sede excessiva, aumento da frequência urinária, glicemias persistentemente mais altas sem causa aparente, náuseas, vômitos, dor abdominal, sonolência, confusão mental, mal-estar intenso, além de tremores, suor frio e fraqueza súbita, que podem indicar hipoglicemia.

A boa notícia é que algumas medidas simples ajudam a reduzir os riscos no dia a dia. Manter uma boa hidratação ao longo do dia, mesmo sem sentir sede, evitar exposição ao sol nos horários mais quentes, optar por roupas leves e ambientes ventilados, manter refeições mais leves e regulares e monitorar pressão arterial e glicemia com mais frequência durante períodos de calor intenso são atitudes fundamentais. Também é importante não interromper medicamentos sem orientação médica e redobrar a atenção em viagens, festas e mudanças de rotina comuns nessa época do ano.

O verão exige cuidados extras, especialmente de quem convive com doenças crônicas. Entender os riscos e agir de forma preventiva é uma das maneiras mais eficazes de atravessar os dias mais quentes com mais segurança e qualidade de vida.